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7 de janeiro de 2016

Assim às vezes nos sonhos

Ilustração de Hilsaca Castro


A multidão não parava de passar. Era o centro do centro da cidade. O homem estava sozinho, sozinho. Rios de gente passavam sem o ver.
Só eu tinha parado, mas inutilmente. O homem não me olhava. Quis fazer alguma coisa, mas não sabia o quê. Era como se a sua solidão estivesse para além de todos os meus gestos, como se ela o envolvesse e o separasse de mim e fosse tarde de mais para qualquer palavra e já nada tivesse remédio. Era como se eu tivesse as mãos atadas. Assim às vezes nos sonhos queremos agir e não podemos.

 
 
Sophia de Mello Breyner Andresen, "O Homem" in Contos Exemplares
Figueirinhas, 2006, 36ªed., p. 138