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8 de abril de 2016

Rua de nenhures


il. Anuska Allepuz


Cantas. Não sei bem onde,
mas atravessas as paredes da casa
e do coração. O amor indetectado
lança notas da música da terra
 não a das estrelas, que não há

Cantas. E o universo é uno,
é uno neste verso. 


Pedro Tamen

5 de abril de 2016

Cama



il. Leandro Lamas

Podia ser uma cama aberta no horizonte
e os teus cabelos num poente incendiado.
Podia ser o teu sexo num cume de monte,
e os teus seios despidos sobre este prado.
A mão que esconde mais do que oferece,
os olhos de presa dominando o caçador.
E os teus lábios que murmuram a prece
de quem só reza no instante do amor.
E se falasse dos teus olhos, dos teus braços
desse corpo em que me perco e te ganho,
não mais acabaria o que tem de acabar;
uma respiração de suspiros e de abraços
neste canto em que és tudo o que eu tenho,
nesta viagem em que não tem fundo o mar.

Nuno Júdice

3 de abril de 2016

Abro-te a porta do poema


 
il. Lorena Pugh

Abro-te a porta do poema; e tu
espreitas para dentro da estrofe, onde
um espelho te espera.

Nuno Júdice

1 de abril de 2016

Nunca são as coisas mais simples que aparecem


il. Diane Duda

Nunca são as coisas mais simples que aparecem
quando as esperamos. O que é mais simples,
como o amor, ou o mais evidente dos sorrisos, não se
encontra no curso previsível da vida. Porém, se
nos distraímos do calendário, ou se o acaso dos passos
nos empurrou para fora do caminho habitual,
então as coisas são outras. Nada do que se espera
transforma o que somos se não for isso:
um desvio no olhar; ou a mão que se demora
no teu ombro, forçando uma aproximação
dos lábios.
                                                             Nuno Júdice