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8 de dezembro de 2015

Não há dia nenhum que não nos visite


Ilustração de Sofia Golovanova


Não há dia nenhum que não nos visite
um Anjo Teu:
na alegria que saboreamos como dom
no azul de certas presenças
que persiste depois em nós por longo tempo
no diálogo unânime, na palavra transparente
mas também no desejo frágil que não raro é o da vida
no seu passo indeciso, interrompido e cinzento
ou na ferida que nos pede mais aceitação do que cura
Não há dia nenhum que não nos visite
um Anjo Teu:
no que desce ou ascende em silêncio
e depende e não depende apenas de nós
na imperfeição e na sede que numas horas pesa
e noutras nos alavanca
na vida minúscula, no encontro talvez ínfimo
em busca daquela evidência
que na pobreza do presépio tocamos
Não há dia nenhum que não nos visite
um Anjo Teu

José Tolentino Mendonça