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2 de julho de 2015

Muda de vida ou muda de poema

Ilustração de Dinara Mirtalipova
Um poema não é uma coisa que se coloca sobre o teu dia como um condimento sobre o teu almoço.
A vida de uma pessoa não tem material semelhante a nada que conheças. Existir é feito de peças impossíveis de copiar.
E a poesia não entra nesse material único - a vida de uma pessoa - como o avião no ar ou o acidente do avião na terra dura. Um poema não é manso nem meigo, não é mau nem ilegal.
Os homens não se medem pelos poemas que leram, mas talvez fosse melhor.
O que é a fita métrica comparada com algo intenso?
Há poemas que explicam trinta graus de uma vida e poemas que são um ofício de demolição completa: o edifício é trocado por outro, como se um edifício fosse uma camisa.  
Muda de vida ou, claro, muda de poema.

Gonçalo M. Tavares, in A Perna Esquerda de Paris