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27 de outubro de 2013

Deserto

Ilustração de Andreas M. Wiese

Parou o automóvel na rua deserta.
As casas dissimuladas pelos jardins, a folhagem muito escura, as flores brancas, amarelas, cor-de-rosa. E um leve perfume que se insinuava como uma neblina.
Pássaros.
O mar cheio de vento.
E as ilhas, cinzentas, ao longe.
As ilhas que sempre tinham feito parte do cenário.
Um cenário de cartão pintado.
Patrícia encostou a face ao volante.
"Estou de volta."
Riu baixinho.
Para dissimular o medo.
Medo de ficar fechada.
"Se alguém fechar os cortinados..."
Cortinados espessos, de veludo.
Mas aquela sensação de claustrofobia, trouxera-a consigo. De espaços abertos, de outras cidades.
Como se tivesse estado numa cela. Ou num deserto.

Ana Teresa Pereira, in Num lugar solitário, Relógio d'Água, 2012, II Parte, Cap.º 1, p. 53




Num lugar solitário

Num lugar solitário, de Ana Teresa Pereira, é a história de um homem e uma mulher que se encontram e dialogam num espaço fechado, supostamente um consultório, no qual ela é clínica - psicóloga ou psicanalista - e ele cliente. 
O conhecimento deles torna-se mútuo num jogo entre ambos, até que chegam a ser o duplo um do outro. 
Além disso, Tom vê em Pat (Patrícia) a sua irmã, Isabel, com a qual está inicialmente envolvido.


A Tom e Pat unem-nos os livros que leem, os quadros que veem, os filmes.

Como irão resolver a projeção de Isabel em Pat, que se torna obsessiva?


Ilustrações de Anne Siems

Qual a simbologia do azul e do fogo neste impressionante e perturbador romance de Ana Teresa Pereira? 

Só lendo-o de um fôlego nos podemos cruzar com o destino (insólito) das personagens...

Mª Carla Crespo