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17 de setembro de 2013

O velho que lia romances de amor (1)





- Olha, com toda a confusão do morto já quase me esquecia. Trouxe-te dois livros.

Os olhos do velho iluminaram-se.

- De amor?

O dentista fez que sim.

Antonio José Bolívar Proaño lia romances de amor, e em cada uma das suas viagens o dentista abastecia-o de leitura.

- São tristes? - perguntava o velho.

- De chorar rios de lágrimas - garantia o dentista.

- Com pessoas que se amam mesmo?
 
- Como ninguém nunca amou.

- Sofrem muito?

- Eu quase não consegui suportar - respondia o dentista.

Mas o doutor Rubicundo Loachamín não lia os romances.

Quando o velho Lhe pediu o favor de lhe trazer leitura, indicando muito claramente as suas preferências - sofrimentos, amores infelizes e desfechos felizes -, o dentista sentiu que estava perante um encargo difícil de cumprir.

Luis Sepúlveda, in O velho que lia romances de amor, Asa, 2000, 17ª ed., pp. 24-25