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30 de abril de 2013

Paradoxo

Ilustração de Raul Colon





A possibilidade de uma dor infinitamente excitante existe.



                         Novalis, in Fragmentos, Assírio & Alvim

28 de abril de 2013

Água

Ilustração de Chiho Makino


A água é uma chama molhada.

Novalis, in Fragmentos

Compreender as árvores

Ilustração de Afonso Cruz



Não é preciso ser cientista para compreender as árvores, basta ser pássaro. Ou Abril.



Afonso Cruz, "28 de Abril" in O livro do Ano

27 de abril de 2013

Sós com o que amamos

Ilustração de Kristina Swarner
Estamos sós com tudo aquilo que amamos.

                                                  Novalis, in Fragmentos

25 de abril de 2013

Amor

Ilustração de Alexandra Eldridge

O amor é o fim último da história universal. O amen do universo.

Novalis, in Fragmentos, Assírio & Alvim, col. Gato Maltês



24 de abril de 2013

Pura ficção?

Ilustração de Su Blackwell

Não confundas a vida com o teatro, dissera-me Rosa; e eu ouvia as mesmas palavras na boca da historiadora ao dizer-me que não devia confundir o que nasce da investigação histórica com o que realmente se passou, numa determinada época. A história do passado, somos nós que a fazemos, e não os seus protagonistas; e eu pensava nisto como se fosse uma aberração, pondo em causa todos os livros que lemos e por onde estudámos a evolução do mundo e das sociedades. Seria tudo uma pura ficção? Então, disse-lhe, a verdadeira história está nos romances, porque aí é onde o homem projecta a sua realidade, entre o que viveu e o que sonhou, sem qualquer preocupação de construir uma cena dominada pela verosimilhança que os acontecimentos conferem ao que se escreve.

Nuno Júdice, in Os Passos da Cruz (2009), D, Quixote, 1ª ed., p. 74

23 de abril de 2013

A força da palavra


Ilustração de Alexander Sulimov

O ser não existe a não ser quando se transforma em palavra. Imagina que desapareces; e que tudo aquilo que viveste e que disseste sobrevive apenas nalgumas memórias de gente que te conheceu; e finalmente, à medida que esses vão deixando de existir, a tua presença apaga-se, o teu nome, mesmo a tua identidade em fotografias de grupo onde, quando ninguém se lembrar de ti, vão perguntar, apontando para ti: Quem é esta? E depois passam a outro assunto, como se de facto nunca tivesses existido, simples sombra de um tempo que pensaste ter ajudado a construir, e que passou, para sempre, até ao fim de haver humanidade.

Nuno Júdice, in Os Passos da Cruz (2009), D, Quixote, 1ª ed., p. 43

O alter-ego


Em Os Passos da Cruz, também o narrador se funde com outra personagem masculina - Brás Teles, com quem Antónia Margarida de Castelo Branco foi casada antes de fugir para um convento, devido a maus tratos conjugais: 

Ilustração de Mike Worral


E surgiu-me uma dúvida: quem era eu? Seria esse que um dia decidira procurar o lugar onde vivera Antónia Margarida procurando uma resposta para os dramas de uma época em que o indivíduo pouco contava? Ou seria eu Brás Teles, que se apossara de mim próprio, e de quem me tornara um duplo? De facto, como acontece na maior parte dos romances, o narrador acaba por se confundir com o personagem, transferindo para dentro dele todo o seu universo.

Nuno Júdice, in Os Passos da Cruz (2009), D, Quixote, 1ª ed., p. 93

22 de abril de 2013

Perder-se...

Em pequenas estradas (...), basta uma distracção para que se perca o horizonte, e os passos nos levem para onde não se esperava ir. Eu, no entanto, gosto de me perder.

Nuno Júdice, in Os Passos da Cruz (2009), D, Quixote, 1ª ed., p. 17




Só aparentemente o narrador se perde.

Com efeito, Os Passos da Cruz, de Nuno Júdice, oferecem os passos da teoria à prática literária, em jogos de fusão da escrita com a realidade, interceção de vários planos da narrativa e de duas personagens femininas que funcionam como o alter-ego uma da outra - Rosa, por quem o narrador-personagem se apaixonara nos anos 60 do século XX, e Antónia Margarida de Castelo Branco, figura seiscentista que, qual fénix, renasce na memória de quem tenta conhecer detalhes, coadjuvado por uma historiadora.


Ilustrações de Mike Worral

Os Passos da Cruz é, pois, uma obra magistral que cruza planos narrativos, épocas e personagens, suspendendo o leitor e levando-o pelas páginas da intriga, confiante de que não será desapontado. E assim acontece ou não fora uma obra de Nuno Júdice. 

Maria Carla Crespo

21 de abril de 2013

Harmonia

Ilustração de Quentin Gréban


A coesão geral, interior, harmónica, não existe, mas existirá.


Novalis, in Fragmentos, Assírio & Alvim, col. Gato Maltês


20 de abril de 2013

Poeticidade

Ilustração de Hiromi Nishizaka

Pode haver momentos em que um abecedário nos parece poético.


Novalis, in Fragmentos, Assírio & Alvim, col. Gato Maltês

19 de abril de 2013

Natureza e regra

Ilustração de Cheryl Sorg

A linha curva é a vitória da natureza sobre a regra.

           
 Novalis, in Fragmentos, Assírio & Alvim, col. Gato Maltês

18 de abril de 2013

Paixão e abismo

Ilustração de Pablo Auladel




A cegueira é o destino de quem se deixa tomar de assalto pela paixão: deixamos de ver quem amamos. Em vez disso, o apaixonado fita o abismo de si mesmo.


Mia Couto

17 de abril de 2013

Poesia e verdade

Ilustração de Stasia Burrington



A poesia é o real absoluto. Isto é o cerne da minha filosofia. Quanto mais poético, mais verdadeiro.

        


Novalis, in Fragmentos, Assírio & Alvim, col. Gato Maltês


16 de abril de 2013

Absolutismos

Ilustração de Cally Johnson-Isaacs


Não censures nada do que é humano; tudo é bom, embora não seja bom em todo o lado, nem sempre, nem para todos.



Novalis, in Fragmentos, Assírio & Alvim, col. Gato Maltês

15 de abril de 2013

Domingo em casa


Ilustrações de Sun Haeng Heo



Amanhã podia ser domingo, e

não haver sol; podia ouvir os sinos e

dizer que era apenas uma ilusão; podia

descer a rua e não encontrar o homem

que vende os jornais; podia chegar

ao largo e não ver as mulheres

em grupo a caminho da igreja, onde

vai começar a missa.



Amanhã podia ser domingo,

e as ruas estarem vazias como se

não houvesse nada para fazer; podia não

ser domingo e todas as lojas

fecharem, podia não

ser domingo e alguém perguntar

o que é que se faz quando não

é domingo.



Amanhã podia ser um dia qualquer,

e não saber em que dia estou; podia

olhar para o relógio e descobrir que

os ponteiros estão parados, podia

ouvir alguém falar, e não saber de onde


vem a voz que sai da sua boca, como

se estivesse sozinho.



Ou então, podia abrir a porta e

ver que o domingo quer entrar; e

puxá-lo para dentro da casa, para


que lá fora fique sem domingo; e

sair para a rua num dia qualquer,

perguntando a quem passa

se viu passar o domingo.

Nuno Júdice, in As coisas mais simples

14 de abril de 2013

Às vezes

Às vezes sentimos que o tempo chegou ao fim...

Ilustração de Makoto Muramatsu

...A solução é pegar
no fim e metê-lo à boca, como se fosse uma pastilha
elástica, derreter o sabor que o envolve, por amargo
que seja, e no fim pegar nesse resto que ficou e, tal
como se faz à pastilha elástica, deitá-lo fora. Para
que queremos nós o nosso próprio fim? Já bastou
tê-lo saboreado, derretido na boca, sentido o seu
amargo sabor. Então, libertos do nosso fim, veremos 
que as portas se voltarão a abrir, que a gente continua
a andar à nossa volta, que a sombra já não nos mete medo,
e que se nos voltarmos teremos pela frente o rosto
desejado, o amor, a vida de que o fim nos queria ter privado.


Nuno Júdice, in Fórmulas de uma luz inexplicável 

13 de abril de 2013

Um conceito inexprimível

Ilustração de Yoon Jae Lee
...se as palavras são duras
como as pedras, e sólidas como a terra áspera
do verão, porque não ficamos em silêncio?

Nuno Júdice, "Um conceito inexprimível", 

in Fórmulas de uma luz inexplicável

12 de abril de 2013

A força da dignidade humana

Ilustração de Maria Jose Olavarria Madariaga

...o homem muito forte que pode carregar toneladas não é mais que o velhinho que só pode ajudar.

"Abbé Pierre", in António Marujo, Deus vem a público, Entrevistas sobre a transcendência, vol. I, p. 295

9 de abril de 2013

Ler é bom!


Ilustrações de
Nathalie Jomard

...ter os pés soerguidos é a primeira condição para desfrutar da leitura.


Italo Calvino, in Se numa noite de Inverno um viajante

7 de abril de 2013

O poema


Ilustrações de Kristina Swarner


O poema me levará no tempo
Quando eu já não for a habitação do tempo
E passarei sozinha
Entre as mãos de quem lê

O poema alguém o dirá
Às searas

Sua passagem se confundirá
Com o rumor do mar com o passar do vento

O poema habitará
O espaço mais concreto e mais atento

No ar claro nas tardes transparentes
Suas sílabas redondas

(Ó antigas ó longas
Eternas tardes lisas)




















Mesmo que eu morra o poema encontrará
Uma praia onde quebrar as suas ondas

E entre quatro paredes densas
De funda e devorada solidão
Alguém seu próprio ser confundirá
Com o poema no tempo


Sophia de Mello Breyner Andresen, in Livro Sexto

6 de abril de 2013

Frutos a voar

Ilustração de Afonso Cruz



O meu irmão corrigiu-me enquanto eu apontava  
para a árvore: não são frutos a voar,
são pássaros.



Afonso Cruz, "13 de Julho" in O livro do Ano

3 de abril de 2013

O milagre da amizade

Ilustrações de 
Jimmy Liao












A amizade não se procura, não se imagina, não se deseja; exercita-se...

A amizade não se deixa afastar da realidade, tal como o belo. E o milagre consiste, simplesmente, no facto de que ela existe.


Simone Weil, in A gravidade e a graça

2 de abril de 2013

Deserto


Às vezes, trago um deserto para casa. 

É quando me sinto sozinha.

Afonso Cruz, "14 de Julho" in O livro do Ano



Ilustrações de Laimonas Smergelis 


O meu irmão diz que é muito fácil fazer    
um oásis num deserto.



Basta juntar água.


Afonso Cruz, "15 de Julho" in O livro do Ano